Falta de treinamento prejudica programa de micro popular

Notícias - Diversos - Quinta-feira, 29 de setembro de 2005

s participantes de audiência pública realizada pela Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática chegaram à conclusão de que, embora promissor, o programa Cidadão Conectado precisa ser divulgado para alcançar a meta de inclusão digital de 2 milhões de famílias com renda entre 3 e 10 salários mínimos (de R$ 900 a R$ 3 mil). Anteriormente conhecido como PC Conectado, o programa oferece linhas de crédito para a compra de computadores de até R$ 1,4 mil.

A principal ação do Governo Lula pela inclusão digital foi questionada especificamente por utilizar o software livre nos equipamentos. Representantes de empresas de programação e informática temem que, sem treinamento para o uso desses programas, o comprador do micro popular opte por piratear softwares mais conhecidos de programas proprietários, como o Windows.

O deputado Walter Pinheiro (PT-BA), integrante da Frente Parlamentar do Software Livre, observou que 79% da população brasileira nunca usaram computadores e 89% nunca acessaram a internet. "Quando falamos sobre qual software usar no Brasil, tanto os softwares livres quanto os proprietários são desconhecidos pela população de baixa renda", destacou.

O presidente da Associação Brasileira de Software Livre (Abrasol), Jayme Álvares Gomes Filho, ressaltou que o cidadão comum não sabe nada sobre o programa nem sobre o software livre. Gomes Filho também se disse preocupado com a falta de capacitação desses novos usuários de computadores. Segundo ele, ao incentivar a compra de equipamentos eletrônicos sem o treinamento devido para a utilização dos programas, "o governo pode acabar promovendo a pirataria de softwares".

O representante da CompTia na América Latina, Gilberto Galan, observou que 90% dos computadores vendidos em países emergentes sob programas que utilizam softwares livres acabam utilizando programas piratas em substituição.

A CompTia é uma associação que atua em 103 países e tem 20 mil empresas associadas. Entre seus participantes estão algumas das maiores empresas de computação do mundo, como a Sun, a IBM, a HP e a Microsoft. Apesar desse perfil, Galan defende a "neutralidade tecnológica", que permitiria à população escolher entre softwares livres, proprietários ou híbridos.

Em resposta a essa preocupação, o diretor do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), Sérgio Rosa, disse que os incentivos são para todas as empresas, mas que o governo fez uma aposta nos programas que ele próprio vai financiar. Rosa fez ainda um "desafio" às empresas para que demonstrem a diferença entre softwares livres e os proprietários a uma pessoa que nunca utilizou computador. "A tela do computador é idêntica e os softwares têm as mesmas funções".

O diretor-presidente do Instituto Nacional da Tecnologia da Informação (ITI), Renato da Silveira Martini, ressaltou que, além de reduzir o custo final do micro, o software livre permite que qualquer empresa interessada desenvolva novos produtos com soluções aplicáveis a esses programas.

Na avaliação do secretário de Políticas de Informática do Ministério da Ciência e Tecnologia, Marcelo Lopes, a associação de políticas social e industrial é o principal foco do projeto. "Ao promover a inclusão digital, o programa também está criando uma indústria nacional", avaliou.

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